A saúde sempre foi um tema importante. No momento de pandemia do coronavírus que estamos passando, ela mais do que nunca virou essencial. No mês do Dia das Mães, a Revista Mais Ibiúna entrevista uma médica que podemos considerar a Mãe da Saúde em Ibiúna.
Ela recentemente recebeu duas homenagens, atende até hoje em São Roque e Ibiúna. Realizou mais de 5000 partos e deixou em Ibiúna um legado que hoje é essencial para a saúde dos munícipes. Um bate-papo com Dra. Margarida, ginecologista e obstetra, a primeira ibiunense formada em medicina.
Gente de quem?
Gente dos Giancoli. Sou Margarida Giancoli Reguengo, nasci em 29/10/1942, em plena Segunda Guerra Mundial, em casa, que fica no antigo Posto Shell, hoje posto Folena, em Ibiúna. “Nhá Zabé” foi a parteira que me trouxe ao mundo. Meus pais eram Armando e Lázara Giancoli e, quando eu tinha aproximadamente 2 meses de idade, meu pai foi convocado para a Guerra e logo partiu para Caçapava, sendo forçado a deixar para trás eu e minha mãe (com 17 anos na época) aos cuidados do meu avô Milton. Felizmente o Presidente Getúlio Vargas concedeu um indulto que trouxe meu pai de volta. Meus pais tiveram mais cinco filhos, todos homens (Armando Filho, Paulo, José, João e Marcelo). Cresci em Ibiúna, aprendi minhas primeiras letras na escola Laurinda Vieira Pinto, com a professora Osciles Juni. Terminei o curso primário e fui para São Paulo cursar o “ginásio” no Colégio Santa Inês, no bairro Bom Retiro. Neste colégio também cursei o científico (colegial). Após um ano de cursinho (Curso Brigadeiro) entrei na FCMBB (Faculdae de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu), na sua primeira turma do curso de Medicina. Terminei a faculdade em 1968 e colei grau em 11/01/1969. Fiz residência médica no Hospital Municipal de São Paulo em 1969, que preparava médicos para atuar no interior do estado. Em 1970 abri consultório e Pronto Socorro na Praça da Matriz em Ibiúna, onde atuei até 1976. Em 1972, conheci José Reguengo, com quem me casei, que veio trabalhar como dentista no Sindicato Rural de Ibiúna. Deus me deu 3 filhas (Régia, dentista e terapeuta holística, Karina, dentista e advogada, Raquel, turismóloga), 1 filho (Rubens, veterinário) e 7 netos, sendo todos homens.
Da união matrimonial se constituiu uma família e com o mesmo amor, um alicerce para a saúde de Ibiúna. Conte-nos sobre este feito. Como surgiu o sonho de um hospital?
Em 1974, casei-me com José Reguengo e planejamos juntos a construção de um hospital. Com a ajuda de um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal iniciamos a construção do Hospital que levou o nome “RÉGIA”, abreviatura de “Reguengo e Giancoli”. O Hospital foi inaugurado em outubro de 1975 e, nessa época já era nascida nossa primeira filha que também recebeu o nome Régia. Administramos o hospital onde fui diretora clínica até 1979, quando por falta de apoio político, o vendemos para Tikara Otomo e nos mudamos para São Roque já com 3 filhos, onde montei um consultório na Avenida Tiradentes. Em 1981 nasceu minha filha caçula. Mais uma vez com a ajuda de empréstimo bancário, eu e meu marido construímos uma casa juntamente com um consultório na Rua Garfield Pereira Barretos, onde atuo como ginecologista até os dias atuais.
Foram quatro anos sob sua administração (1975 a 1979). Quais foram as suas principais dificuldades naquela época? E como ficou o hospital com a sua saída?
A maior dificuldade sempre foi dinheiro. Naquela época não existia nada, nenhum investimento na saúde. Quando precisávamos de sangue, o padre anunciava na missa. Não havia apoio dos governantes, falavam que era mais fácil encaminhar para o Hospital das Clínicas em São Paulo. Sem apoio ficou difícil e resolvemos ir morar em São Roque. O hospital ficou abandonado, foi depredado, roubaram até encanamento. Depois de um tempo uma equipe de vinte médicos se reuniu para atender no hospital e voltou a fechar.
Quando voltou a atender em Ibiúna?
No ano de 2000, eu voltei a atender em posto de saúde no Paiol Pequeno em Ibiúna a pedido de Fábio Bello. E há dez anos atendo na UBS – Unidade Básica de Saúde, do bairro Rosarial.
50 anos de dedicação à saúde. Você se sente realizada como pessoa e profissional?
Em abril de 2018 recebi medalha comemorativa dos 50 anos de graduação da minha faculdade em meio a grande solenidade. Em setembro de 2020 recebi uma homenagem do CRM pelo exercício digno da medicina por 50 anos. Estou com 78 anos e já não faço mais cirurgias, somente atuando em ambulatório aqui em São Roque e na Prefeitura de Ibiúna. Apesar de minha idade, procuro ser útil para minhas pacientes e me considero realizada como médica, esposa e mãe. Durante todos esses anos em que trabalhei em Ibiúna, realizei por volta de 5.000 partos e atendimentos de todos os tipos, desde cuidados a recém-nascidos até pessoas idosas, acidentados e infartados. Sou infinitamente grata ao povo ibiunense que sempre me tratou com carinho e respeito.