São Sebastião era um soldado cristão que se alistou no exército com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido das torturas. Por sua brandura com os prisioneiros, foi julgado pelo imperador como traidor e ordenado a ser executado por flechas, sendo atirado ao rio. Resgatado com vida, se apresentou novamente e foi espancado até a morte. São Sebastião é o protetor da humanidade contra a fome, a peste e a guerra. Em Ibiúna, há noventa e oito anos, devotos fazem peregrinação em seu louvor por livrar a cidade da gripe espanhola no começo do século XX e por todos os milagres desde então alcançados.
Três gerações em devoção
A família Ferreira tem uma ligação muito próxima a São Sebastião, fazendo parte das celebrações ao santo praticamente desde o início da romaria. Dona Olinta Maria e Sr. Luiz Gonzaga Soares deram a sua filha Maria Sebastiana este nome em homenagem ao santo, pois ela nasceu no dia da sua vinda do sertão para o centro da cidade, há quase oitenta anos, recebendo também a adoração ao mártir como herança e repassando aos seus filhos. Vão à missa todo mês na Capela de São Sebastião e participam todo ano das festividades, inclusive na organização da romaria dos cavaleiros ao sertão.
A neta de Maria Sebastiana, Daniela, nasceu no dia da volta do santo ao sertão, há vinte anos. Foi festeirinha e numa ocasião, na carreata para apresentar a imagem do santo, esta enroscou nos fios de eletricidade e caiu sobre Daniela, acertando-lhe a cabeça. Como a imagem era grande e estava no alto, sua mãe Solange, ao receber a notícia, correu para o caminhão esperando o pior, foi quando constatou que havia feito só um “galo” na testa de sua filha. Foi a segunda vez que o santo se voltou para Daniela.
Aos quinze anos, Dani foi acometida por um câncer na garganta. Devota, se agarrou ao santo pela cura. “ Quando se tem esta doença, todos em volta também ficam doentes de preocupação com seu bem-estar e saúde”, comenta. Amigos, Suzeli e Carlos, pediram uma fita vermelha para fazer uma promessa para São Sebastião. Tamanha a surpresa de Dani quando viu que a fita estava amarrada no pescoço do santo. Neste momento, ela teve a confirmação de que não estava sozinha nesta luta e que seria curada. “São Bastião é meu amigo”, fala da sua intimidade com o santo.
Nasce um cavaleiro
Ano de 1978 às oito horas da manhã numa terça-feira, centenas de pessoas passavam pela avenida São Sebastião em festa com a volta do santo para o sertão. Enquanto isso, em uma residência neste mesmo endereço, a parteira trazia ao mundo, sob os fogos de São Sebastião, Vanderley dos Santos, conhecido como Vando.
Quando criança sempre acompanhava a chegada do santo na avenida. Aos seis teve o primeiro contato com cavalo, mas seus pais não o deixavam ir para o sertão com receio dos boatos de que era perigoso. “Chorei muito aos doze anos, quando a dupla sertaneja famosa, Tonico e Tinoco, foi cantar no sertão em 1990 e meus pais novamente não me deixaram ir”, relembra.
Aos dezesseis fez sua primeira romaria ao sertão. Quando pequeno, Vando prestava atenção na cavalaria de honra e seus cavaleiros romanos. Percebeu que com o tempo, esta tradição havia desaparecido. Ficando motivado a resgatar, prometeu se vestir de cavaleiro por três anos consecutivos. Em 2011 e 2012, foi sozinho. Em 2013, conseguiu mais dois companheiros e no ano seguinte já eram num total de cinco cavaleiros.
Hoje faz parte da comissão que organiza a saída e chegada da romaria dos cavaleiros da Festa de São Sebastião e este ano seu filho Luiz Gustavo de vinte anos, fez a chegada do santo como cavaleiro, passando a tradição de pai para filho.